Água da chuva mancha louças sanitárias?

Apesar do avanço tecnológico e das crescentes regulamentações que envolvem a concepção de sistemas de aproveitamento de água de chuva, algumas pessoas ainda ficam na dúvida se essa água pode manchar vasos sanitários e mictórios ou mesmo apresentar um cheiro indesejado. Compilamos neste artigo algumas informações importantes sobre o assunto e para mostrar que, com alguns cuidados, é possível aproveitar a água da chuva sem precisar abrir mão desses usos, que representam um consumo de até 40% de água nas edificações residenciais.

O uso de água de chuva interno às edificações é previsto pela norma técnica que trata do aproveitamento para fins não potáveis no Brasil (NBR 15.527:2007). A descarga em vasos sanitários é um desses usos previstos na norma. Já é amplamente adotado em projetos e preconizado em diversas legislações municipais que exigem o aproveitamento como medida de uso racional de água. Em países como a Alemanha e a Austrália, onde a água de chuva é aproveitada em larga escala, ela também é utilizada em descargas sanitárias.

Apesar do uso em descargas sanitárias não apresentar uma finalidade potável, ainda assim é necessário garantir a qualidade da água. E, nesse sentido, a NBR 15.527 traz algumas especificações quanto ao tratamento da água e também de limpeza dos dispositivos que devem compor o sistema de aproveitamento. Assim como deve ser feito no caso de reservatórios de água potável (caixa d’água que armazena água da concessionária local), é necessário realizar no mínimo uma limpeza do reservatório por ano. Além disso, a água de chuva armazenada não deve ficar exposta à incidência direta de luz solar e de calor. Essa medida reduz a proliferação de micro-organismos e algas na água, que geram matéria orgânica e podem ser responsáveis pela coloração da água e por mau cheiro.

Complementarmente a essas medidas profiláticas, dispositivos associados ao sistema de aproveitamento de água de chuva já estão disponíveis no mercado para garantir a qualidade do sistema:

  • Nas coberturas, por exemplo, é comum o uso de telas e grades, para evitar a entrada de folhas e outros detritos presentes nas superfícies de escoamento da água;
  • Também é recomendado utilizar um dispositivo de descarte das primeiras chuvas, que elimina um volume inicial de cada chuva e impede que ele seja direcionada ao reservatório. Essa água é descartada por comprovadamente concentrar a maior parte da sujeira das superfícies de escoamento e poluição atmosférica;
  • Antes da entrada de água no reservatório, recomenda-se a utilização de um filtro de remoção de detritos. Esses filtros promovem a eliminação de sólidos grosseiros que ainda possam estar presentes na água captada (folhas, galhos) e materiais particulados de maior dimensão;
  • Após o filtro, na entrada de água no reservatório é aconselhável prever um freio aerador, que impede o turbilhonamento da água. Dessa forma, algum resíduo mais denso, ainda presente na água, permanece no fundo do reservatório. O freio também promove a oxigenação da água para que ela permaneça fresca por mais tempo;
  • As boias flutuantes de sucção possibilitam que a água direcionada para consumo seja retirada do reservatório a uma distância de 15 cm da superfície, a fim de se evitar a captação da zona de decantação e da película superior, que pode conter materiais em suspensão;
  • Componentes instalados junto ao reservatório, como freio aerador e sifão ladrão, devem ser fabricados de modo a impedir o acesso de animais na água armazenada.

Recomendação de periodicidade de manutenção dos dispositivos do sistema de aproveitamento

Além desses cuidados, para uso de água de chuva tanto em descargas como também para lavagem de roupas, pisos, veículos, entre outros, é fundamental prever um sistema de desinfecção da água. Diferentes métodos de desinfecção estão disponíveis no mercado: a cloração, a ozonização e também por luz ultravioleta. O projetista pode definir o método mais adequado para cada caso, garantindo a desinfecção para eliminar possíveis micro-organismos e evitar sua proliferação no sistema.

Portanto: água de chuva não deve manchar louças sanitárias se o sistema de aproveitamento seguir todas as recomendações técnicas!

Considerar o uso de água de chuva para descargas de vasos sanitários e mictórios possibilita que uma parcela considerável de economia de água seja obtida com o sistema de aproveitamento. Em residências, estima-se que as descargas sejam responsáveis por 20 a 40% do consumo, enquanto que, em edificações onde o consumo de água não potável é mais expressivo (como alguns edifícios públicos, comerciais, industriais), essa parcela pode ser ainda maior.

É importante ressaltar que a escolha dos usos finais para os quais a água de chuva será destinada deve ser bem avaliada entre projetista e usuário(s) da edificação, de forma que o sistema de aproveitamento seja pensado para atender a todos os requisitos técnicos de desempenho e qualidade esperados. O usuário também deve estar consciente da manutenção necessária no sistema, requisito esse necessário para qualquer instalação da edificação. Com os equipamentos e cuidados adequados, é possível garantir os benefícios do aproveitamento e obter uma boa economia de água.

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Para te auxiliar a quantificar os benefícios com o aproveitamento de água da chuva na sua edificação, a RainMap disponibiliza uma plataforma de simulação bem amigável que pode ajudar a avaliar essa questão!

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Diretora de operações da RainMap Sistemas Sustentáveis. Engenheira Civil pela Universidade Federal de Santa Catarina.

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